segunda-feira, 22 de março de 2010

Antes Que os Vaga-lumes Desapareçam

O dia 27 de março, entre 20h30 e 21h30, o WWF convida todo mundo a apagar as luzes por uma hora, para testemunhar nossa preocupação com o aquecimento global e com a perda da biodiversidade. O ano passado mais de um bilhão de pessoas apagou a luz em 88 países e mais de quatro mil cidades apagaram a luz dos principais monumentos, como o Coliseu, em Roma, a Torre Eiffel, em Paris, o Golden Gate em Los Angeles, e no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor. Corretamente o WWF lembra que a geração elétrica para a iluminação pública representa uma contribuição pesada às emissões dos gases efeito estufa, que são causa do aquecimento global e da perda da biodiversidade.

A editora Annablume não podia escolher data mais apropriada para o lançamento do livro de Alessandro Barghini; “Antes que os vagalumes desapareçam”, livro resultado de uma tese de doutorado defendida do Instituto de Biociências da USP, e publicado com o apoio da FAPESP.
De fato o livro, partindo da metáfora dos vagalumes, cuja reprodução é afetada negativamente pelo uso crescente da iluminação externa, realiza uma análise ampla dos efeitos que a iluminação artificial está gerando na biosfera.

O caso dos vagalumes é curioso, como escreve Barghini: “Em 1° de fevereiro de 1975 o escritor e diretor de cinema italiano Píer Paolo Pasolini (1975) publicava no maior diário italiano Il Corriere della Sera, o artigo “O vazio do poder”, que ganhou notoriedade imediata, ficando famoso como o ensaio sobre os vaga-lumes. O artigo começa com as seguintes palavras: “No começo dos anos 1960, por causa da poluição do ar e, principalmente no campo, por causa da poluição da água os vaga-lume começaram a desaparecer. O fenômeno foi fulminante e fulgurante. Após poucos anos os vagalumes não existiam mais.”

Sem sabê-lo, Pasolini, estava apontando o efeito da difusão massiva da iluminação artificial sobre a vida silvestre. De fato a explicação mais provável para o desaparecimento dos vaga-lumes não é a poluição do ar ou das águas, mas provavelmente o início da difusão da iluminação pública ocorrida na época na Itália devido ao crescimento econômico e à introdução de novos sistemas de iluminação pública com lâmpadas a descarga, muito mais eficientes que as lâmpadas incandescentes, utilizadas até aquele momento. A razão do desaparecimento é simples: o lampejo dos vaga-lumes é uma forma de atrair o parceiro para o acasalamento, mas a radiação por eles emitida é muito tênue.

Portanto, para ser percebida pelo potencial parceiro é necessário que a iluminação ambiente seja inferior a 0,5 lux e o aumento da iluminação pública ultrapassa esses valores. Por uma economia de recursos, os vaga-lumes não emitem radiação quando o nível de iluminação ambiente é superior a 0,5 lux. Com a iluminação pública que estava se espalhando pelo país, os vaga-lumes acabaram reduzindo o número de acasalamentos e a população definhou.”

Esse é apenas um exemplo dos múltiplos impactos que o uso não controlado da iluminação exerce sobre o mundo vivente. Afinal a vida evoluiu, durante mais de três bilhões e meios de anos, em uma alternância de períodos de luminosidade e de escuridão e a biota se estruturou nessa alternância, utilizando bandas específicas da radiação solar. A iluminação artificial não controlada, quebrando a alternância de claridade e obscuro, afeta em diferentes modos, os seres viventes. Por exemplo, afeta a foto morfogênese das plantas, reduz a capacidade de reprodução das tartarugas marinhas, desorienta aves migratórias e quebra o ecossistema de mamíferos noturnos.
Barghini, em sua pesquisa, demonstrou também que a atração de insetos vetores de doenças pela iluminação artificial aumenta o risco de difusão de doenças transmitida pelos insetos, como a malária, o mal de Chagas e a leishmaniose.

Apesar dos benefícios proporcionados ao homem, a iluminação artificial não controlada pode ser fonte de distúrbio do sono, de iper excitação e pode favorecer a instauração de doenças degenerativas, como o câncer de mama.

Todos esses temas são abordados no livro, percorrendo um longo caminho que, iniciando com a análise da radiação natural do sol, passa a analisar a radiação artificial das lâmpadas hoje utilizadas, mostrando de que forma os diferentes comprimentos de onda exercem sua influência sobre plantas, insetos e vertebrados. O tema é altamente interdisciplinar, mas como comenta o entomólogo Sergio Vanin, na introdução do livro, o autor “é um raro exemplo de pesquisador dotado de conhecimentos multidisciplinares e que consegue transitar com desenvoltura e segurança nas áreas das ciências exatas, biológicas e sociais.”

Por essas considerações, o livro é sem dúvida a leitura mais apropriada para preparar-se à “Hora do planeta”. Então, dia 27 de março, entre 20,30 e 21,30, vamos apagara as luzes, e durante esse período vamos refletir sobre a radiação artificial e seus efeitos perversos sobre a biosfera, nos propondo um uso mais consciente desse grande benefício que a técnica nos fornece.

Para baixar a capa em alta: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij4hYu_I70Oxq_7yVxVbgPuRd34eZrHX6MbY7oC32cW0b8iteE25jlvkizz_8JeA1ICb-jzR98b59pvx16FaK-pW_iY0KpPNivspY9SE5Gnx4BizXhCM9lkUDZ6OybBXnQCqA_Lb0fgHU/s1600-h/ANTES+QUE+OS+VAGA-LUMES.jpg

Contatos do autor:

Tel. IEE/USP 30912549

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Dados do autor:
Alessandro Barghini graduou-se em 1964 em Ciências Políticas na Universidade de Roma com uma tese de antropologia. Dedicou sua vida profissional ao planejamento energético, realizando trabalhos em diferentes países da Europa, da América do Norte, do Sul e Polinésia. Em 2001, com a intenção de sistematizar conhecimentos adquiridos durante sua vida profissional, voltou aos estudos, contemplando mestrado em Ecologia. Em 2008, fez o doutorado no departamento de Ecologia no Instituto de Biociência da USP, Universidade de São Paulo.


Nicolau Kietzmann
Assessoria de imprensa
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